A propósito de um comentário que li há uns dias sobre a forma de ser sincera e/ou direta dos holandeses oposta a forma de ser “subtil” dos latinos, apetece-me refletir sobre o que é isto de ser sincero. Porque na minha opinião há diversas interpretações desta palavra, que muitas vezes é mal usada tanto em palavras como em atos.
Em primeiro lugar não vou aqui discutir se os holandeses são mais ou
menos diretos que os “latinos”, países do sul. A minha experiência não é
suficientemente grande para ter uma opinião vincada. Obviamente que os
comportamentos são diferentes, pois a cultura também o é. E talvez aqui eles
vão diretas à questão e nós gostemos de florear ou contornar os assuntos,
talvez…meras suposições.
Aquilo que aqui quero deixar é a minha opinião acerca do “desculpa lá é
que eu sou, muito sincera/o”… e apetece-me dizer diretamente “olha vai à
merd…que ninguém te pediu opinião”!!
É que há pessoazinhas que se agarram a esta sinceridade mal
interpretada pra descarregarem frustrações com quem se cruzam. Quem é que não
sofreu já de um comentário (amigo ou conhecido) do tipo “estás mais gorda”,
“mais velha”, e por ai adiante. Assim do nada, tipo comentário de rua levamos
com isto nas ventas, ninguém pediu opinião, mas ouvimos na mesma. Toma lá que é
de graça. E se parecermos indignadas ainda levamos com o dito cujo “é que eu
sou muito sincera”. Mas qual é a sinceridade aqui??? Sinceridade ou
estupidez?!!
Não me parece que alguém seja feliz espalhando este venenozinho, não
acredito! E com certeza grande parte de nós já o fez consciente ou
inconscientemente. Eu já o fiz e por não me ter sentido bem a seguir (porque
tenho cérebro para refletir sobre as minhas atitudes) escolho não o fazer.
Não vou acrescentar nada à vida daquela pessoa. Ela não vai começar a
fazer dieta porque eu lhe disse que estava gorda. O que ganho com isso é que se
fique a sentir mal. E nenhum Ser Humano tem o direito de magoar gratuitamente o
outro. Com que prepósito o faz?!! Porque é sincero!!?? Valha-nos a Santa. Com
tanta sinceridade já têm lugar garantido no céu!!
Contrariamente é raro ouvir dizer estás mais bonita, magra ou nova….é
que este tipo de comentários costuma magoar a quem o diz!!! Com certeza!
Hão-de experimentar fazê-lo. Encontrar alguém na rua que conhecem
(amigo ou conhecido) e dar-lhe um elogio SINCERO (porque se o não for, também
ele o perceberá). Ambos se sentirão muito bem e o dia vai com certeza
correr-vos melhor. Isto é a regra básica do “comportamento gera comportamento”.
Más energias geram más energias…Boas energias geram boa energias. Felicidade
gera felicidade.
Isto trouxe-me à lembrança um episódio que me aconteceu (não há assim
tantos tempo) vítima também da sinceridade absoluta de uma colega de trabalho,
a quem até essa data quase chamei de amiga. Livra!!
Não sou propriamente a melhor colega de trabalho em termos sociais. Sou
excelente para a entidade empregadora, mas isso não costuma agradar aos
colegas. Nunca tenho grande tempo para tomar cafés e cafezinhos de meia hora,
não fumo, não gosto e faço tudo para não chegar atrasada. Gosto mesmo de
trabalhar e ser útil nas horas que me pagam e sou chata se o meu trabalho
depender do trabalho dos outros que não o fazem com o mesmo profissionalismo. E
aqui atenção não sou uma “cabra” de ir fazer queixinhas ao chefe. Não tenho
esse direito, nem maldade para o fazer. Sentir-me-ia muito mal comigo se o
fizesse. Mas claro, não sou perfeita, nem assertiva o suficiente para o dizer
com bons modos porque vou enchendo e esperando que o outro se toque (o que
raramente acontece) e claro quando já não posso mais rebento. Típico. Com muita
pena minha porque ninguém gosta de ser julgado, criticado ou pressionado. Eu
também não. Como tal ainda tenho muito para aprender.
Resumindo, fora do trabalho sei ser uma grande maluca com os colegas
com quem mais me identifico.
Voltando ao episódio que me aconteceu foi a propósito de eu não ser a
típica colega querida e social que todos querem nas festas…Uma noite fui a um
jantar de colegas de trabalho, onde também foram alguns acompanhantes. Este
realizou-se na casa de uma colega, que curiosamente, eu até chocava
profissionalmente. Mas lá está, eu separo trabalho e conhaque! Nem todos o
fazemos e eu senti isso na pele da pior forma. Ainda hoje acho que o sinto!!!
O jantar correu às mil maravilhas, bebemos uns copos e a determinada
altura uma colega que é uma fofinha, que precisa de o SER, que se vê como a
defensora dos fracos e oprimidos. Com a qual eu pensava ter uma boa relação
viu-me, naquela noite como um alvo a abater. Resumindo agarrando-se à tal
sinceridade disse o que quis e o que não quis na frente de todos (colegas e
acompanhantes, que não tinham nada a ver com o assunto). Humilhando-me de uma
forma que poucas vezes o devo ter sentido segurei as lagrimas para não ser
ainda mais ridicularizada. Eu nem me tentei defender, pois estava efetivamente
em campo inimigo e como persona non grata, resumi-me à minha insignificância.
Ainda que ela tivesse razão, parece-me que não era o momento de o
fazer. Ainda hoje me custa falar no assunto, talvez porque era uma pessoa por
quem eu tinha muita estima. Enfim… Não ganhou nada com isso, se calhar o apreço
dos outros. Magoou-me como pouca gente o fez na minha vida. Eu não mudei o meu
comportamento profissional. Tenho muito para aprender, sim, mas falta de rigor
e profissionalismo para agradar aos demais, não, obrigada.
Espero nunca fazer isto a ninguém. Se algum dia tiver que usar desta
falsa sinceridade que pelo menos tenha o discernimento de escolher o momento e
o local apropriado. Não me parece que humilhar seja a solução. Jamais me
perdoarei se fizer isto a alguém!!
O mais interessante é que passado quase um ano desse episódio saímos
quase na mesma altura da empresa, ela primeiro que eu. Quando se despediu de
mim demos um abraço sentido e disse-me “ahh desculpa qualquer coisa mas eu sou
muito sincera e direta”. Poupa-me!
…e é isto, sinceridade ou estupidez?!!
Eu prefiro não ser sincera se isso implica magoar gratuitamente os
outros!