terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Falta só mais um nadinha

...é isto que tenho que pensar!!!! Falta pouco, falta muito pouco e o pior já passou. Já contamos com cinco meses de inverno (rigoroso - para mim) aqui por estas bandas e com sorte mais um mês, mês e meio chega o amigo sol e os dias grandes e os churrascos e música nos parques e a música e as tulipas e as cabeças levantadas e as cadeiras e bancos nas ruas para se aproveitar o minimo raio de sol.
E vou com certeza sobreviver ao meu segundo inverno em Amesterdão, todos os dias com o meu Algarve na cabeça.
O amor da minha vida vendo-me em desespero, há uns dias trouxe-me umas sementes de girassol para plantar. Já que não me pode trazer o sol traz-me as flores do sol...é um querido e sei que sofre muito com o meu sofrimento. Para ele é normal, nasceu e viveu toda a vida aqui...não tem outro ponto de referência, não significa que também não esteja cansado desta cor maldita, mas para ele sempre foi assim.
No domingo fomos a meia duzia de metros quadrados portugueses em solo holandês, os Lusitanos. Assim que se entra respeita-se Portugal, fala-se português, bebe-se e come-se português.
Toda a atmosfera é portuguesa comemos uma bela de uma chouriça assada (desconfio que não era portuguesa - que se lixe- valeu o porquinho em barro, na qual foi assada, esse sim português). Comemos uma carne de pouco à alentejana que estava de chorar por mais bebemos um vinhito português,eu, ele umas Sangres.
Ainda assim não vi por lá o sol, que parece ter-se esquecido desta parte do mundo.
Não quero, de todo, fazer do meu blogue o muro das lamentações e também a mim já me cansam os meus posts acerca do tempo e da falta de sol...mas acreditem não é mesmo nada fácil sobreviver sem sol a quase cinco meses e talvez só me compreendam verdadeiramente as pessoas que também precisam dele e não o têm. Há uns dias voltamos às temperaturas negativas (hoje está um pouco melhor) mas no fim de semana esteve um frio horrível um vento de fazer gelar a alma.
Ai pessoas isto não é fácil, espero que o meu amor seja suficientemente grande para sobreviver a mais uns quantos invernos. O que vale é que normalmente o ser humano - e eu particularmente - tem memória curta e quando aparecer o primeiro verdadeiro raio de sol, Amesterdão voltará a ser novamente uma das mais belas cidades, cheia de vida e encanto.
Está quase...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mais um desabafo

Há pouco na aula de holandês, uma colega começou a falar do cão que tinha comprado havia umas semanas. Aliás na aula passada já tinha introduzido o assunto mas eu não liguei muito, pois estava a queixar-se que um cão com 2 meses ainda fazia xixi em casa. Expliquei-lhe que era normal, blá, blá e a aula começou e não se falou mais no assunto.
Hoje começou com o assunto outra vez. Comprou um chiuaua há umas semanas e fala do cão como se fosse uma peça de decoração lá de casa, que deve ser. Sim, porque o bibelô não tem as medidas e a forma exata com que a menina sonhou. E olhem que não estou a exagerar, quer ir devolver o cão porque as orelhas estão caídas e garantiram-lhe que os cães desta raça tem sempre as orelhas empinadas e se é assim é porque não é puro ...blá, blá, blá.
A sério, não compreendo e continuo a dizer, para mim (e perdoe-me as excepções) quem compra um cão, não ama um animal, quer é um bibelô para passear e para dizer ao amigos o cão de raça que têm.
E depois não agrada por qualquer motivo e é devolvido como se de uma mercadoria se tratasse. Sim porque o bicho não têm coração, não se afeiçoa, etc...é um produto, pagou-se, devolve-se e reembolsam o dinheiro. Simples!
Já agora e os donos de cães vão-me entender. Qual é das primeiras perguntas, se não a primeira que nos fazem quando dizemos que temos um cão???
- Ahhh (que giro) de que raça é????
- Olha merddd....o que é que isso interessa, é um cão, tem quatro patas, duas orelhas, um nariz, uma cauda  É um cão!!!!
Isto tira-me do sério, haverá poucas coisas que o conseguem, mas esta é sem dúvida uma delas.
Coincidência ou não, chego a casa e tenho isto à minha espera:

Só vos peço uma coisa pensem bem antes de adotar ou comprar um animal, seja ele qual for. Dão trabalho, requerem tempo e organização na vida pessoal...trazem muita felicidade e o amor que nos têm é incondicional...mas ainda assim não é para toda a gente.
Eles merecem e tem o direito de serem respeitados e cuidados, por quem os adota!! Não são qualquer coisa, são seres vivos.
Boa noite.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nome de Código Leoparda

A minha vida não seria a mesma coisa se eu pertencesse à parte  da população que não gosta de ler.
É que gosto mesmo de gostar de ler!! E até me parece impossível que alguém não goste. E isto começou há muitos anos atrás, era eu uma criança.
A minha mãe conta-me que muitas vezes quando ia-mos às compras em vez de brinquedos eu pedia um livro...também me parece estranho, mas se ela diz é porque sabe.
Ler transporta-nos para o mundo da imaginação, faz-nos sonhar e viajar. Adoro a sensação de sentir falta do livro, de querer ler mais um pouco e não conseguir parar.
Já andava com saudades do senhor Ken Follet e para não variar não desapontou as minhas expetativas com este livro.
No início fiquei assim na dúvida, mas após umas quantas páginas começou uma história absolutamente fantástica.
Resumindo uma equipa constituída por seis mulheres tentam evadir um "castelo" em França e destruir parte das operações nazis.
Vou a meio, a história promete e é altamente viciante.
Recomendo!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Farta de cinzento

A falta de inspiração com que tenho andado para escrever penso que se deva a estes dias cinzentos magníficos que vieram para ficar há já uns bons meses. Penso que a última vez que vi o sol à séria foi há três semanas quando estive em Portugal, no Porto.
E se no início do Inverno (em Setembro) isto se leva com alguma ligeireza, chega-se a Fevereiro e já não se pode com frio, com chuva, com neve, com gelo, com vento...e com todas as coisas boas que há por estes lados em termos climatéricos.
Estou farta de casacos, de luvas, de gorros e de me enfiar em roupa como se fosse um chouriço...nunca pensei que isto do tempo me custasse tempo...e influenciasse tanto o meu ser...há dias que custam mesmo a passar. Fui avisada, mas sou céptica, aos meus olhos é ver para crer.
No outro dia uma colega minha dizia-me "vou de férias em Março preciso de ver neve à séria, de a pisar, de sentir frio de verdade". Devo ter olhado para ela incrédula e com cara de tonta, que a mulher está louca, mas eu dou-lhe um desconto...ela é finlandesa. Cada um sente falta da sua zona de conforto, daquilo que lhe é familiar, seja lá o que isso for.
Eu sinto falta de um céu azul bebé, sinto falta de um raio de sol a queimar-me a pele, sinto falta da minha praia e de um café numa manhã de domingo no Paquete.
E pronto isto de vez em quando dá-me e depois passa.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Eles andam por cá

Ou eu ando com o ouvido mais apurado ou andam por cá muitos portugueses.
No início  nunca os ouvia pelas ruas, se cá moravam não sei onde andavam porque nunca nos cruzamos. Brasileiros, sim..muitos!
Depois entrei no grupo de portugueses em Amesterdão no facebook e aí apercebi-me que éramos uns quantos...com o passar do tempo vão entrando mais e mais. Acho que todos os dias (ou quase todos) novas pessoas querem fazer parte deste grupo. Não quer dizer que estejam todos de chegada, há portugueses que já cá estão há muitos anos.
Resumindo, o que quero dizer é que atualmente quase todos os dias oiço um português a falar, ora é no supermercado, ora é na rua, ou na Hema, ou em outra qualquer situação.
Ontem foi na rua enquanto ia de bicicleta para o ginásio, há uns dias foi no Jumbo que vende o vinho Porca de Murça e que de vez em quando nos lembramos de comprar todo o stock (atenção que todo o stock é dizer 5 garrafas, às vezes um pouco mais).
No início gostava de meter conversa e às vezes ainda gosto, mas nem todos estão para aí virados e como já tenho apanhado caras feias já penso duas vezes.
Eu gosto de fazer uma festa e contar logo metade da minha vidinha quando vejo um compatriota, mas se calhar daqui a dez anos já penso de maneira diferente, como tal tenho que respeitar todas as formas de ser.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O outro lado de Amsterdam

Relativamente ao meu último post, Amsterdam Underground o que posso eu dizer!? Foi uma experiência intensa, interessante, perturbadora e quase chocante. Possivelmente ainda consigo ser a menina ingénua que viveu 22 anos numa pequena aldeia no nordeste algarvio. 
Testemunhos como o do Frank (o nosso guia) deixam-me um nadinha perturbada e depois levo uns dias a digerir o assunto. Eu que sou educadora social, mas em primeiro lugar um ser humano, sensível que só eu!
O Frank contou-nos na primeira pessoa como é que um ser humano pode descer tão baixo e o que ele relatou foi simplesmente a sua história de vida sem metáforas ou romantismo. Limitou-se a ser prático, direto e eu diria até sereno. 
O Frank tem hoje 56 anos, consumiu drogas durante grande parte da sua vida, viveu cerca de 20 anos na rua, está limpo há dois anos. Ele levou-nos a conhecer as ruas de Amesterdão vista dos seus olhos.
Foi assim que ele começou: "Sou holandês, cresci neste bairro - no centro de Amsterdam, atualmente extremamente turístico - se me dissessem há 35 anos atrás naquilo que a minha vida se iria tornar eu diria que seria impossível e até rir-me-ia.....mas aconteceu e pode acontecer a qualquer um, sem exceção!". 
Nesta tour ele levou-nos aos antigos pontos críticos no mundo da droga em pelo coração de Amesterdão. As ruas bonitas que hoje os turistas tanto apreciam, cheias de lojas e restaurantes, onde se pode circular à vontade, há não muitos anos atrás eram circuitos de vendedores e consumidores de droga. Contou-nos todos os detalhes, coisas que eu estaria longe de imaginar. Por exemplo, os vendedores andam com pequenas doses de droga na boca para vender, caso os polícias os apanhem tem que a engolir para não irem presos. Contudo tem um limite de tempo para a colocar fora do organismo, caso contrário a morte é certa. Os truques são ingerir óleo para a defecar ou sal com coca-cola para a vomitar. Este é apenas um dos muitos pormenores que ele nos contou de um mundo tão violento e cruel. 
Ao longo de cerca de 35 anos consumiu drogas e desceu até onde podia. Viveu cerca de 20 anos na rua, começou por alugar pequenos quartos de hotel até que o vício não lhe permitiu desperdiçar dinheiro que não fosse para drogas. Viveu 10 anos na rua, debaixo da ponte (mostrou-nos qual era a ponte mais segura para dormir), vendeu, consumiu, passou droga no estômago, prostituiu-se, partiram-lhe o nariz seis vezes, as costelas outras tantas, têm vários cortes de faca cravados na pele, o coração parou duas vezes, uma das quais foi dado como morto...mas o seu coração teimou em bater novamente....Enfim foram duas horas de um relato de vida impressionantes. 
Há cerca de dois anos parou, continua limpo e quando lhe perguntei se tinha receio de uma recaída e respondeu-me firmemente que não, que já tinha vivido o suficiente no mundo da droga e que agira queria viver descansado o resto da vida. 
Termino também com uma das suas últimas citações. "Os primeiros anos a consumir drogas foram fantásticos, é um mundo que nos dá prazer, faz-nos felizes, consumimos para descontrair....é bom. Contudo há um limite e o problema é perceber quando chegamos ao limite e parar. O limite é quando já não conseguimos ser felizes e estar descontraídos sem drogas e aí parar é quase impossível...queremos acreditar que ainda temos o controlo, mas já há muito que o perdemos".