quarta-feira, 13 de março de 2013

Anônimos

Acabei mesmo agora de vir de uma espécie de grupo de ajuda para pessoas que querem partilhar os seus problemas e o que lhes vai na alma. 
Depois de um dia esgotante de trabalho que me sugou todas as energias (que por esta altura já não são muitas) de uma dor de cabeça daquelas, lá fui eu. E sói fui porque sou moça para cumprir todos os meus compromissos...e ainda bem que fui. 
Obviamente que não fui lá partilhar os meus problemas, não que os não tenha, mas comparados com os que ouvi, resumi-me à minha insignificância. Senti-me pequenina por me queixar de alguma coisa na minha vida. Por esta altura os meus problemas têm quase sempre apenas um tema: o tempo, ou melhor o mau tempo que por aqui faz, as saudades e afins.
Fui a convite da minha coordenadora de voluntariado, pois como educadora social e neste momento voluntária é bom estar em contato com estas histórias e numa próxima vez posso acompanhar o meu “maatje” (a pessoas que voluntario) nestes encontros.
Foi super interessante, histórias de vida exageradamente pesadas, que passam quase sempre por viver na rua um par de anos. Vai sendo recorrente neste país. Eu não vejo quase sem-abrigos aqui, mas que os há, há e muitos.
A história de uma mulher, relativamente nova que viveu em "transe", aliás desistiu de viver após a morte inesperada do marido. 
Ouvir estas histórias na primeira pessoa é duro. Não são filmes ou histórias que alguém nos conta, são os próprios, com as emoções e a linguagem corporal de quem está a passar, passou e/ou ultrapassou um momento (ou parte da vida) numa situação traumatizante.
Infelizmente o meu nível de holandês ainda não me permite perceber tudo.
Mas talvez uma das frases marcantes da noite foi a de uma senhora ao referir que viveu um par de anos na rua e que nunca se sentiu tão sozinha e “desprotegida” como atualmente que vive numa casa.  É contraditório, mas compreensível. Depois de um longo período na rua é necessário reaprender a ter um quotidiano “normal” seja lá o que isso for.
...
Enquanto lá estava dei por mim a divagar sobre a minha experiência profissional enquanto educadora de adultos, das histórias, da partilha, das emoções, das lágrimas, do carinho, da empatia, dos sorrisos...porque de tudo isto se constrói a palavra social...e é de tudo isto que eu sou feita. 

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