quarta-feira, 13 de julho de 2016

Sem maldade


Há uns dias atrás, numa conversa mais acesa, o meu pai disse-me: 
- Já há muito tempo que eu reparo que não vês maldade em ninguém!
A conversa continuou acesa e isto não me saiu da cabeça, fazendo-me lembrar que a minha avó paterna, há muitos anos atrás, também me dizia que para mim ninguém era mau. 
E eu sinto-me lisonjeada por duas pessoas tão importantes e próximas de mim terem essa opinião. E ainda que ambas o tenham dito em jeito de crítica eu considero isto um elogio.
Eu não sou assim tão ingênua, parva ou estúpida. Obviamente que tenho uma opinião ou, às vezes, até faça avaliações aos comportamentos dos outros para comigo. Contudo as opiniões ou atitudes de grande parte das pessoas que me rodeiam (vizinhos, colegas de trabalho, conhecidos, contactos...etc.) não me atormentam. Não me fazem perder o sono, não me fazem andar zangada com o mundo, não me impedem de ser quem sou ou de fazer aquilo que quero. Em bom português, basicamente, não me interessam (interessam-me sim as opiniões de alguns familiares, dos amigos próximos e de alguns chefes de trabalho).
Talvez seja por isso que dificilmente alguém me ouve criticar alguém ou a lamentar que alguém diz que disse de mim. Não me interessa. Isto foi talvez um mecanismo de defesa que adquiri na infância (uma vez que fui dentuça até aos 25 anos e caixinha de óculos até aos 18) e fui aperfeiçoando com os anos.
Uma das minhas melhores amigas, que veio dos tempos de escola. Antes de gostar de mim disse-me na cara que me detestava. Andávamos, talvez no oitavo ano e teríamos uns 14 anos. Quando lhe perguntei a razão disse-me que era a minha atitude extrovertida que a irritava. Ela era das que tinha medo da própria sombra. Respondi-lhe que um dia seriamos melhores amigas. Riu-se de mim. Lá para o décimo ano conquistei-lhe o coração e é uma amizade que dura até hoje e tem resistido à distância. Quando me casei foi ela que desenhou e fez os noivinhos para o bolo de casamento, que é uma réplica nossa. Quando vou a Portugal é uma visita obrigatória.
Na Universidade voltei a ter uma história parecida, alias várias histórias. Não posso dizer que dessas histórias se geraram grandes amizades mas sei que com o tempo essas pessoas foram percebendo realmente a minha essência e hoje me respeitam pelo que sou.
Sou extrovertida, faladora, entusiasta, energética, não vivo na sombra e não tenho grandes problemas de auto-estima (na maioria das vezes) e isso por vezes é mal-interpretado é confundido com arrogância ou até falta de humildade. Contudo, nada que o tempo não ajude a resolver a quem realmente quer perceber.
Muitas vezes confrontei pessoas com o que diz que disse (em meu nome) e muitas foram as vezes que não havia fundamento.
No trabalho, nunca me juntei às conversas dos fumadores e bebedores de café, até porque não fumo e só bebo café ao pequeno-almoço.
Se vejo maldade nos outros? Não, no fundo não vejo. Vejo é comportamentos ou ouço opiniões fruto de juízos de valor à minha pessoa.
Se isso me perturba? Não, não me perturba porque na maioria das vezes estou tranqüila com a minha consciência, com os meus valores e com as minhas atitudes.
E quando me perturba é tempo de perceber que errei, de voltar atrás e pedir desculpa.

3 comentários:

  1. Revejo-me muito neste post! Se calhar és optimista e as pessoas acham que isso é ingenuidade, quem dera houvesse mais gente como tu!

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  2. Acho que pode-se manter a atitude ou comportamento que tens e na mesma ver maldade nos outros.
    É muito positivo que nós não percamos tempo ou ficamos perturbados com o que os outros acham ou dizem. Eu gostava de ser mais assim como tu, pelo teu texto, do que o que sou agora. Por acaso as redes sociais, cheias de discussões da treta ajudaram-me a "cagar" mais nos outros (senão viviamos sempre revoltados com a sociedade).

    No entanto podemos na mesma ver maldade nos outros. Eu por defeito sou como tu, não vejo maldade nos outros, no que fazem ou no que falam na maioria das vezes, mas por acaso guardo sempre a ideia que muita gente tem maldade (basta ver no dia-a-dia).
    Mas no entanto é um bocado contraditório: a maioria das pessoas com quem interajo também não vejo maldade por isso porque é que acho que "nos outros" existe maldade?
    Tema curioso que daria para estar horas aqui...

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  3. Aquilo que eu prefiro ver nos outros Bruno são atitudes (menos corretas) com justificação para isso. Afinal se formos generalizar todos nós podemos então ser maldosos...contudo há sempre uma justificação para tudo. Podemos sempre calçar os sapatos do outro e ponderar. Ninguém conhece melhor a nossa vida que nós mesmos (nem o nosso companheiro). E não são as redes sociais que ditam a pessoa que somos. Eu uso muito pouco das redes sociais porque entre aquilo que me interessa que me é útil ou que me ensina há muito muito pouco....mas estes estes dão sim pano para mangas.

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