terça-feira, 3 de abril de 2012

Lá e cá

Ontem falava com umas colegas de trabalho (brasileiras) sobre as diferenças entre os nossos países e a Holanda.
Elas já cá estão há algum tempo e contaram-me histórias hilariantes do que cá têm vivido, nomeadamente em termos de choque cultural. 
Uma das histórias foi sobre o tema de dar, receber, partilhar, que é extremamente natural tanto em Portugal como no Brasil. É quase um ato de boa educação, nas nossas culturas, partilharmos as nossas coisas com os outros. A história foi basicamente esta, num local de trabalho uma holandesa abriu um pacote de rebuçados e uma colega brasileira pediu-lhe um, a holandesa disse-lhe que o podia vender. A brasileira disse que só queria provar um. "Ok eu só te vendo um, não te quero vender o pacote todo", foi a resposta da holandesa. Eu fiquei incrédula ao ouvir isto e quando contei a história cá em casa, ele também ficou.
As diferenças são consideráveis, é um facto. Que os holandeses não são "mãos largas" e dados à partilha extrema também já me constou. 
Contudo, a minha opinião (fundamentada com os 5 meses que já cá estou) é de que não se pode nem deve generalizar. Nem todos são iguais e acredito que até nos nossos países esse tipo de situações pode acontecer. Acho que isso tem mais a ver com uma questão do carácter pessoal de cada um do que com a cultura propriamente dita. Obviamente que somos também, em parte, o fruto da nossa cultura. Mas nem tudo é suscetível de ser atribuído à cultura e aos hábitos.
Boas e más coisas, pessoas e situações.....há lá e cá. É um facto!!! O que é certo é que passamos meia vida a dizer mal do nosso país quando lá vivemos e depois quando emigramos, o nosso, passa por magia a ser o melhor em quase tudo (eu também sofro disto).
É bonito e saudável sentir este patriotismo pelo que é nosso, contudo não devemos ser extremistas e achar que "aqui" está tudo mal, que a cultura e os hábitos não prestam....blá, blá, blá.
Nós é que estamos cá "a mais", como tal, e na minha modesta opinião, só temos que tentar compreender em vez de criticar.
A questão não é melhor ou pior, é diferente. É claro que para mim há certas coisas que só me fazem sentido da maneira como as aprendi ou fui educada. Mas para outra cultura diferente é exatamente igual, ou seja a estranha maneira de viver é a minha.
Só um pormenor. Eles, aqui, gostam de colocar no lado de dentro da porta da toilette (que só tem a sanita) o calendário dos aniversários dos amigos e família. Eu já ouvi pessoas a criticar isto. E eu pergunto, qual é o mal!? É um pormenor caricato e engraçado. Ponto.
Eu, por exemplo, apanhei a deixa e agora coloco regras gramaticais do holandês (assim estou ocupada, enquanto estou ocupada, se é que me faço entender)
Resumindo e concluindo, o importante é não atentarmos contra a vida e a liberdade uns dos outros, todo o resto são pormenores e particularidades.
Acredito que se torna mais fácil não criar barreiras e preconceitos. Nós é que escolhemos (pelas mais variadas razões) vir para cá. Então resta-nos uma de três opções, passar a vida a criticar e isso fazer-nos mal e infelizes, aceitar ou pelo menos compreender, ou ir embora para o nosso país.
Atenção, que com isto não digo que acho tudo o máximo e que não há situações que me têm deixado indignada. Porque as há e algumas até já partilhei aqui. Mas continuo a dizer é recuperar do "choque" inicial e seguir em frente. É como é. Aqui, a estrangeira, SOU EU!!!

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