A oma, avó do Gerben e bisavó da Lia morreu.
Conhecia-a em 2011 quando vim conhecer a família, na altura não falava uma palavra de holandêse o Gerben foi o interprete. Lembro-me de uma senhora muito meiga com uns olhos cheios de ternura, perguntou-me coisas sobre mim e sobre o meu país.
Quando me mudei para a Holanda fomos visitá-los algumas vezes (a ela e ao marido) apresentamo-lhes a Lia com pouco mais de um mês.
Tenho muitas saudades dos meus avôs. Também gostava de lhes ter apresentado a nossa piolha. Mas eles conhecem-na. Eu sei.
Todos os anos era/é tradição em Outubro a família reunir-se toda (filhos, netos e bisnetos e respetivas famílias) para celebrar o aniversário deles que é nesse mês. Fomos a todos desde que faço parte desta grande e bonita família. Em 2013 nós casamos em Outbubro e a festa foi adiada por causa do nosso casamento. Mas quando aconteceu fizemos-lhes uma supresa, a meio da festa trajamos os fatos e celebramos todos juntos.
Este ano não fomos. Faziamos um ano de casados precisamente nesse dia e quisemos estar sós um com o outro, o Yofi e a nossa pequenina. Só nós.
Esta senhora que quase não cheguei a conhecer transportava paz, ternura e muito amor no ollhar.
Morreu com 95 anos rodeada de amor e ao lado da filha mais velha, a mãe do Gerben, a minha sogra.
Já há muito que o queria. Já tinha vivido tudo o que um ser humano pode desejar, já não esperava mais nada, apenas a hora que Deus a levasse
Dedicou a sua vida a família. Teve 5 filhos, 12 netos e 18 bisnetos, a minha Lia é a mais pequenina.
Sempre esteve disponivel para a família, sempre, segundo o Gerben, nunca se esqueceu de um único aniversário dele.
O anos passado, ela e o marido foram entrevistados por uma rádio porque celebraram 70 anos de casamento.
Uma semana
antes de dizer adeus para sempre alguns dos netos foram dizer-lhe adeus a ela. Num ambiente de paz e
tranquilidade.
Na passada terça feira fomos enterrá-la. Numa cerimónia protestante e ao costume holandês.
Foi uma cerimónia emocionante e bonita. Rodeada de tranquilidade e de amor. Completamente diferente do que estou habituada em Portugal. Não queria comparar mas é impossivel.
Cá em casa, a morte, é um tema quase proibido. Eu lido muito mal com ela. O Gerben consegue vê-la de maneira mais natural. E eu percebo agora porquê.
Quando se enterra aqui uma pessoa celebra-se a vida dessa pessoa e não a morte. Também se chora, também se sente dor. Sim. Mas cada um tenta fazê-lo à sua maneira e de uma forma discreta.
Durante a cerimónia canta-se, le-se um capitulo da biblia e os familiares discursam lebrando a vida, celebrando a vida. Achei uma forma tão bonita de dizer adeus.
A minha sogra fez um discurso tão bonito. De entre o que me lembro referiu que a mãe sempre os ensinou a amar e a desfrutar de cada momento da vida. Penso que por isto esta senhora deixou tão em paz este lado. Foi daqui com a certeza de dever cumprido, tenho a certeza.
Depois do enterro, e seguindo o costume holandês, os presentes reuniram-se para tomar chá, comer bolo, conversar e celebrar a vida.
na surpresa que lhes preparamos
numa das visitas que lhes fizemos
com a nossa Lia, a bisneta mais nova
Deixo-vos com a passagem da Lia que escolheram para a sua despedida
1 Ainda que eu falasse as línguas dos
homens e dos anjos, e näo tivesse amor, seria como o metal que soa ou
como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de
profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e näo
tivesse amor, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo
para ser queimado, e näo tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4 O amor é sofredor, é benigno; o amor näo é invejoso; o amor näo trata com leviandade, näo se ensoberbece.
5 Näo se porta com indecência, näo busca os seus interesses, näo se irrita, näo suspeita mal;
6 Näo folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor nunca falha; mas havendo profecias, seräo aniquiladas; havendo línguas, cessaräo; havendo ciência, desaparecerá;
9 Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10 Mas, quando vier o que é perfeito, entäo o que o é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava como
menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei
a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12 Porque agora vemos por espelho em
enigma, mas entäo veremos face a face; agora conheço em parte, mas entäo
conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
DAG Oma