quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

De bem


Às vezes (quando a pequena me deixa) gosto de vir ao blogue espreitar o que escrevi há um ano atrás. Hoje vim dar com este texto, escrito exactamente há um ano e um mês.
Consigo sentir a dor nas minhas palavras. A confusão de espírito. O pessimismo. A destruição interior.
Um ano depois e tanta coisa mudou. Eu mudei. Ou, melhor, aceitei. Fiz as pazes comigo.
A adaptação a um novo país, a uma nova realidade é vivida por cada um de maneira muito diferente. Contudo penso que quando acalmamos “a paixão e a excitação” da mudança há aquele período de “ai meu Deus”, da realidade, do desencantamento, da dúvida, da “solidão interior”…e quase…do desespero. Comigo foi assim.
Todos me diziam (os que já cá estão há muitos anos) que isso passava. Que os primeiros 3 anos são os que doem, depois passa. Várias pessoas também me disseram que estava na altura de ter filhos!?
Eu não acreditava. Doía muito, as saudades, o abraço da amiga, a comida da mãe, os dias inteiros na praia, as jantaradas com os amigos. Doía e eu queria que doesse. Por isso escrevi esse texto para me lembrar que doía e não queria que essa dor passasse. Todos os dias a cultivava. Todos os dias encontrava coisas más na Holanda. Todos os dias me lembrava do sol de Portugal.
Passaram 3 anos. Fui mãe. A dor passou. Não sei se porque passaram 3 anos. Não sei se porque fui mãe. Não sei se por ambas. Não me importa. Estou feliz. Sou feliz. E é isso que me importa.
Este estado de alma foi algo que trabalhei em mim. Fiz muitas revisões anteriores.
O blogue também me ajudou, as apenas 42 mensagens que escrevi em 2014 dizem-me como foi esse ano. Não sei escrever quando não estou bem.  
Não sei bem quando se deu a mudança, talvez com o nascimento da minha filha, talvez por pensar que não quero educá-la num ambiente triste e de desesperança. Porque os pais dela são pessoas alegres e divertidas. Também são humanos e, por isso, às vezes choram. E é bom chorar. Eu gosto de chorar. Sou de choro fácil, sempre fui. Mentira, houve uma altura, há uns anos que desaprendi de chorar, também estava triste e desencontrada, não chorava. Li algures que chorar faz muito bem, alivia e é verdade, para mim. Li que se não chorarmos é porque de alguma maneira “desistimos” de lutar. Por isso choro, choro sempre que me dá vontade. Eu sou uma guerreira nunca vou parar de lutar, está-me no sangue. Não travo o choro. Às vezes choro no silêncio da minha cama de saudade. Não porque estou triste mas porque me dá saudade e a saudade dá-me lágrimas.   
Depois de três anos de Holanda fiz as pazes comigo e com ela. Do verbo voltar já resta pouco. Hoje estou bem, estou feliz. Somos uma família. Estamos a crescer juntos, a aprender a cada dia. Já gosto da Holanda. E todos os dias me apaixono por Amesterdão. Gosto tanto desta cidade.
Quando saio sozinha na minha bicicleta sinto-me uma sortuda. Sinto-me livre. Esta cidade é tão bonita, tão cheia de vida.
Portugal está lá. Está aqui. Guardadinho no meu coração. Mas eu estou cá e o meu coração também. Se chove fico em casa, no quentinho com a piolha e o cão. Tão bom. Se faz uma hora de sol vou correndo para o parque com eles e aproveito esse raio, adoro senti-lo na cara. E sou feliz.
Já não critico (bem critico, mas não negativamente) faça chuva ou sol. Aceito. E é tão mais fácil.
Lá está é a lógica “do copo meio vazio ou meio cheio”. É sempre melhor jogarmos pela positiva. É tão mais fácil.
Há tempos também li que a força das nossas palavras altera muito o nosso estado de espírito. Acredito. Palavras como nunca, odeio, detesto…são muito fortes e negativas. Se é esse o nosso registo diário vamos, sem querer, ser pessoas mais azedas, mais infelizes, mais negativas. Eu tento não dizê-las. E faz diferença.
No outro dia dei por mim a dizer a uma colega que quando nos tornamos mães deixamos de ser egocêntricas. Se calhar é verdade. Agora penso muito menos em mim. Ou melhor penso mais em nós. E sei que o verbo amar e o verbo ser feliz, hoje, estão aqui.
Obrigada!

(PS. Ser feliz só depende de nós. Há muitos factores externos que podem facilitar mas a felicidade é um sentimento interior não exterior. Este texto explica isso muito bem.)

2 comentários:

  1. Eu identifico-me um pouco com o que escreveste, não a parte de ser mãe, que espero estar para breve...
    Já desgostei mais de viver cá, mas no geral gosto da cidade, gosto da qualidade de vida que temos aqui, gosto que neve... Mas ainda sinto saudades de Lisboa, pela família e amigos, por estar longe e perder tanta coisa da vida de amigos que conheço há mais de 10 anos...
    Enfim, mas também tenho paz interior e sou feliz aqui :D

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  2. Tudo se torna muito mais fácil quando paramos de resistir e aceitamos. Eu não só aceitei como aprendi a ser feliz aqui.
    Se sinto saudades? Todos os dias. Os amigos, a família, o sol e a comida de lá trago-os no coração.
    Boa sorte para o novo projecto ;) É simplesmente MARAVILHOSO!!!

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