A Lia têm quase cinco meses e eu continuo em casa 100% a cuidar dela. Por opção, por coincidência do destino, por prazer e, sobretudo, porque posso. Em condições normais já teria voltado ao trabalho, uma vez que aqui na Holanda a licença de maternidade é de 16 semanas, sendo que quatro semanas têm que ser tiradas obrigatoriamente antes do parto.
Contudo, às
vezes, sinto que estou a “perder o meu tempo”, que estupidez de pensamento, não
fosse o melhor tempo da minha vida investido na minha filha. Não pode haver
melhor patrão que ela.
Continuando, sim,
às vezes, dou por mim “frustrada”, em casa, a sentir-me “inútil” ainda que com
as mil tarefas que como mãe tenho para fazer diariamente. Quando tenho tempo
espreito vários blogues e facebooks de outras mães bem sucedidas, que parece
que são a perfeição em pessoa, excelentes profissionais, com tempo para a vida
social, para praticar desporto, para viajar e para serem mães exemplares.
Eu pergunto-me
qual é o segredo? Sim porque eu estou em casa (para os leigos na matéria
estarei de férias, eu também já fui leiga) e mal tenho tempo para mim, para ela
tento tê-lo todo.
Qual será então o
segredo? Será que os dias dessas mães têm mais de 24 horas! O que é certo é que
este mistério de ser boa em tudo me cria alguma mossa interior, ou melhor, se
calhar, criava. Eu, nesto momento, só tento ser boa mãe, boa esposa, boa filha
e às vezes boa amiga…ufa e já é tanto.
A mim parece-me difícil
ser boa profissional e boa mãe ao mesmo tempo. Porque ambos precisam de muito
tempo, de dedicação, de paixão, de empenho. Ser boa profissional implica
dedicar-se ao trabalho, penso eu, 5 dias por semana, 8h por dia, pelo menos. Mas
ser mãe (já nem digo boa) também implica isso, dedicação tempo, paciência. Então
como se faz para se ser boa em ambos os papéis, ao mesmo tempo? Colocamos os
bebés na creche depois de três meses de nascidos das 8h às 18h (tempo que dedicamos
ao trabalho) às 19h é hora do banho, da comida, de os entreter com um qualquer
brinquedo ou com a televisão para as 21h irem para a cama, para de manhã
começar tudo de novo. Temos filhos para dar trabalho aos outros, sejam ele
amas, educadores de infância, professores ou avós!??
Ahh e uns anos
mais tarde haverá também a natação às segundas e quartas, o futebol ou ballet
às terças e quintas, às sextas as explicações e trabalhos de casa aos sábados e
domingos. Há qualquer coisa nisto que não me soa bem, não me agrada, não me
parece saudável.
Mas é esta a produtividade
que a sociedade quer, que exigimos uns dos outros. Que nós começamos
prematuramente a exigir dos nossos próprios filhos. Porque ser só pessoa não
basta, ser-se só mãe não é suficiente (não é de todo remunerado).
Ser mãe é a “profissão”
mais bonita, a mais exigente e a mais importante na vida de um homem e de uma
mulher. Seremos sempre, em grande parte, responsáveis pelo que ele será quando
adulto. Este não é o maior desafio de todos de quem é pai e mãe!?
Escondemo-nos
atrás de psicologias baratas que dizem que os bebés têm que ir “prematuros”
para as creches, em prol do seu desenvolvimento, da socialização, do
crescimento. Os bebés estão é bem com as mães deles, ou haverá alguém melhor
que uma mãe para cuidar do seu bebé. A intuição de uma boa mãe vale mais que
todos os cursos de educadoras (não querendo de todo desvalorizar o trabalho das
mesmas). Eu nunca andei na creche, entrei para a escola primária com 6 anos e
até lá fui educada pela minha mãe, pelas minhas avós, e, às vezes, pelas minhas
vizinhas. Não sinto, de todo, que sou subdesenvolvida ou anti-social. Claro que
os tempos eram outros brincava-se na rua até às tantas com os outros meninos
(eu sou da geração dos sem-tecnologias, tinha 8 anos quando chegou a electricidade
ao monte dos meus pais).
Somos rotuladas menos
mulheres porque estamos em casa a cuidar dos nossos bebés. Eu não deixei de ser
mulher porque passei a ser mãe, ou ser mulher implica apenas ter um trabalho
remunerado. Como mulher e mãe tanto me apetece passar o dia de pijama em casa,
como vestir a melhor roupinha e maquilhar-me para ir passar o cão e a bebé ao
parque ou ir às compras. Ser mulher é um estado de alma, não uma profissão,
digo eu.
Esta exigência
que a sociedade (que somos todos nós, atenção) nos impõe todos os dias que
temos que fazer tanto, temos que ser tudo, temos que ter muito….será legitimo?
Será verdadeiro? Será razoável?
Esta pressa que a
sociedade nos impõe em termos que fazer sempre alguma coisa. Temos até pressa
de viver e por isso o presente é sempre vivido projectado no futuro. E a mim
parece-me saudável ter planos, ter objectivos e sonhos. O que não me parece
razoável é esquecer o presente, com pressa de chegar ao futuro.
Ontem, dei por
mim a pensar que eu pensava muito nisso mesmo, no futuro (trabalho, casa,
viagens) que exigia demasiado de mim. Que tenho uma bebé de quase cinco meses
(que passaram a voar) que precisa de mim para tudo (e tão bom que isso é) que
não tarda estará com cinco anos (e não precisará tanto de mim) e aos quinze já lhe
serei inútil.
E, hoje, agora,
presente posso estar com ela, de a cuidar (como ninguém), de lhe ver o primeiro
sorriso da manhã, de a alimentar sem pressas, de a mimar quando acorda a
chorar, de a embalar, de lhe dar os beijos mais demorados, de dançar ou cantar
para ela, de a apertar contra o meu peito e sentir este amor crescer, que de
tão grande parece já não caber no coração.
Estou a
desempenhar o papel mais importante da minha vida, o de ser mãe. Quero
entregar-me a ele de alma e coração, quero fazer o melhor que posso e sei,
colocar toda a minha energia, o meu tempo, a minha dedicação, o meu amor, a
minha paixão porque afinal ser mãe fez de mim, definitivamente, ma mulher mais
completa.
Ser mãe a tempo
inteiro é acima de tudo um privilégio! E haverá algo de errado nisso?
Entendo-te e compreendo-te se alma e coração.
ResponderEliminarSOMOS MÃES, e por agora, isso chega-nos e completa-nos...