terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Full time mamã


A Lia têm quase cinco meses e eu continuo em casa 100% a cuidar dela. Por opção, por coincidência do destino, por prazer e, sobretudo, porque posso. Em condições normais já teria voltado ao trabalho, uma vez que aqui na Holanda a licença de maternidade é de 16 semanas, sendo que quatro semanas têm que ser tiradas obrigatoriamente antes do parto.
Contudo, às vezes, sinto que estou a “perder o meu tempo”, que estupidez de pensamento, não fosse o melhor tempo da minha vida investido na minha filha. Não pode haver melhor patrão que ela.  
Continuando, sim, às vezes, dou por mim “frustrada”, em casa, a sentir-me “inútil” ainda que com as mil tarefas que como mãe tenho para fazer diariamente. Quando tenho tempo espreito vários blogues e facebooks de outras mães bem sucedidas, que parece que são a perfeição em pessoa, excelentes profissionais, com tempo para a vida social, para praticar desporto, para viajar e para serem mães exemplares.
Eu pergunto-me qual é o segredo? Sim porque eu estou em casa (para os leigos na matéria estarei de férias, eu também já fui leiga) e mal tenho tempo para mim, para ela tento tê-lo todo.
Qual será então o segredo? Será que os dias dessas mães têm mais de 24 horas! O que é certo é que este mistério de ser boa em tudo me cria alguma mossa interior, ou melhor, se calhar, criava. Eu, nesto momento, só tento ser boa mãe, boa esposa, boa filha e às vezes boa amiga…ufa e já é tanto.
A mim parece-me difícil ser boa profissional e boa mãe ao mesmo tempo. Porque ambos precisam de muito tempo, de dedicação, de paixão, de empenho. Ser boa profissional implica dedicar-se ao trabalho, penso eu, 5 dias por semana, 8h por dia, pelo menos. Mas ser mãe (já nem digo boa) também implica isso, dedicação tempo, paciência. Então como se faz para se ser boa em ambos os papéis, ao mesmo tempo? Colocamos os bebés na creche depois de três meses de nascidos das 8h às 18h (tempo que dedicamos ao trabalho) às 19h é hora do banho, da comida, de os entreter com um qualquer brinquedo ou com a televisão para as 21h irem para a cama, para de manhã começar tudo de novo. Temos filhos para dar trabalho aos outros, sejam ele amas, educadores de infância, professores ou avós!??
Ahh e uns anos mais tarde haverá também a natação às segundas e quartas, o futebol ou ballet às terças e quintas, às sextas as explicações e trabalhos de casa aos sábados e domingos. Há qualquer coisa nisto que não me soa bem, não me agrada, não me parece saudável.  
Mas é esta a produtividade que a sociedade quer, que exigimos uns dos outros. Que nós começamos prematuramente a exigir dos nossos próprios filhos. Porque ser só pessoa não basta, ser-se só mãe não é suficiente (não é de todo remunerado).
Ser mãe é a “profissão” mais bonita, a mais exigente e a mais importante na vida de um homem e de uma mulher. Seremos sempre, em grande parte, responsáveis pelo que ele será quando adulto. Este não é o maior desafio de todos de quem é pai e mãe!?
Escondemo-nos atrás de psicologias baratas que dizem que os bebés têm que ir “prematuros” para as creches, em prol do seu desenvolvimento, da socialização, do crescimento. Os bebés estão é bem com as mães deles, ou haverá alguém melhor que uma mãe para cuidar do seu bebé. A intuição de uma boa mãe vale mais que todos os cursos de educadoras (não querendo de todo desvalorizar o trabalho das mesmas). Eu nunca andei na creche, entrei para a escola primária com 6 anos e até lá fui educada pela minha mãe, pelas minhas avós, e, às vezes, pelas minhas vizinhas. Não sinto, de todo, que sou subdesenvolvida ou anti-social. Claro que os tempos eram outros brincava-se na rua até às tantas com os outros meninos (eu sou da geração dos sem-tecnologias, tinha 8 anos quando chegou a electricidade ao monte dos meus pais).
Somos rotuladas menos mulheres porque estamos em casa a cuidar dos nossos bebés. Eu não deixei de ser mulher porque passei a ser mãe, ou ser mulher implica apenas ter um trabalho remunerado. Como mulher e mãe tanto me apetece passar o dia de pijama em casa, como vestir a melhor roupinha e maquilhar-me para ir passar o cão e a bebé ao parque ou ir às compras. Ser mulher é um estado de alma, não uma profissão, digo eu.
Esta exigência que a sociedade (que somos todos nós, atenção) nos impõe todos os dias que temos que fazer tanto, temos que ser tudo, temos que ter muito….será legitimo? Será verdadeiro? Será razoável?
Esta pressa que a sociedade nos impõe em termos que fazer sempre alguma coisa. Temos até pressa de viver e por isso o presente é sempre vivido projectado no futuro. E a mim parece-me saudável ter planos, ter objectivos e sonhos. O que não me parece razoável é esquecer o presente, com pressa de chegar ao futuro.
Ontem, dei por mim a pensar que eu pensava muito nisso mesmo, no futuro (trabalho, casa, viagens) que exigia demasiado de mim. Que tenho uma bebé de quase cinco meses (que passaram a voar) que precisa de mim para tudo (e tão bom que isso é) que não tarda estará com cinco anos (e não precisará tanto de mim) e aos quinze já lhe serei inútil.
E, hoje, agora, presente posso estar com ela, de a cuidar (como ninguém), de lhe ver o primeiro sorriso da manhã, de a alimentar sem pressas, de a mimar quando acorda a chorar, de a embalar, de lhe dar os beijos mais demorados, de dançar ou cantar para ela, de a apertar contra o meu peito e sentir este amor crescer, que de tão grande parece já não caber no coração.  
Estou a desempenhar o papel mais importante da minha vida, o de ser mãe. Quero entregar-me a ele de alma e coração, quero fazer o melhor que posso e sei, colocar toda a minha energia, o meu tempo, a minha dedicação, o meu amor, a minha paixão porque afinal ser mãe fez de mim, definitivamente, ma mulher mais completa.   
Ser mãe a tempo inteiro é acima de tudo um privilégio! E haverá algo de errado nisso?

1 comentário:

  1. Entendo-te e compreendo-te se alma e coração.
    SOMOS MÃES, e por agora, isso chega-nos e completa-nos...

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